SAÚDE
Os atores Reynaldo Gianecchini e Edson Celulari, a autora Glória Perez, a ex-presidente Dilma Rousseff, o cantor Jorge Aragão e o comentarista esportivo Caio Ribeiro são exemplos de pessoas conhecidas que foram acometidas por um linfoma, câncer que atinge o sistema linfático.
Atualmente, o cantor Netinho, ícone do axé baiano, de 58 anos, está fazendo tratamento contra um linfoma, diagnosticado em fevereiro deste ano. O cantor se prepara para um transplante de medula.
Netinho procurou atendimento médico por causa de dores nas costas e nas pernas e chegou a ficar quase um mês internado. O artista compartilha com seus fãs, nas redes sociais, cada etapa do tratamento, sempre demonstrando fé e positividade.
Netinho, que alcançou grande popularidade na década de 1990 com o hit “Milla” e outros sucessos, está na fase final da quimioterapia e, em seguida, será submetido a um transplante autólogo. Ou seja, utilizará suas próprias células-tronco para substituir a medula óssea comprometida, sem a necessidade de um doador.
O transplante de medula pode ser de dois tipos: autólogo, quando as células-tronco provêm do próprio paciente, como no caso de Netinho, e alogênico, quando há necessidade de um doador compatível. O procedimento pode ser realizado com células retiradas diretamente da medula óssea, do sangue periférico ou do cordão umbilical.
O linfoma é um tipo de câncer do sangue, assim como a leucemia, que afeta os linfócitos, células responsáveis por proteger o corpo contra infecções e doenças. “O linfoma compromete o pleno funcionamento desse sistema de defesa, o que pode torná-lo menos eficaz no combate a infecções”, explica a hematologista Camila Marca, do Centro de Tratamento Oncológico (CTO).
O câncer linfático possui diversos subtipos, mas é classificado em dois principais: o Linfoma de Hodgkin, que geralmente é identificado na região do pescoço ou do tórax e apresenta crescimento rápido e agressivo. Ele é mais comum entre adolescentes e adultos jovens, entre 15 e 29 anos, ou em pessoas acima dos 55 anos. Já o Linfoma não-Hodgkin pode surgir em qualquer parte do corpo e costuma ter um crescimento mais lento, afetando predominantemente pessoas mais velhas.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são estimados 12.040 novos casos da doença por ano no Brasil. Os homens são mais acometidos, com 6.420 casos, contra 5.620 em mulheres. O número de mortes registradas em 2021 foi de 4.469.
Sinais e sintomas – O primeiro sinal da doença é o aumento indolor de algum gânglio linfático, o surgimento de alguma íngua no pescoço, axilas ou virilhas. Além disso, também pode ocorrer febre, suor noturno, emagrecimento sem causa aparente ou aumento do volume do baço, com desconforto abdominal, sensação de estufamento. Tosse persistente por semanas também deve ser avaliada.
Os primeiros sinais pareciam os de uma gripe mal curada, como nariz entupido e dificuldades para respirar, quando dona Sara de Nazaré Coutinho, atualmente com 67 anos, foi diagnosticada, em 2012, com um linfoma não Hodgkin na região da orofaringe. “A gente procurou vários médicos, porque os sintomas eram muito diferentes e ninguém conseguia descobrir o que ela tinha. E minha mãe ficava cada vez mais fraca, até que, depois da biópsia, veio o diagnóstico de câncer”, conta Paula Coutinho, filha de dona Sara.
O tratamento foi iniciado no ano seguinte, com um protocolo de sessões de quimioterapia. Como o corpo reagiu bem, dona Sara teve remissão por cinco anos, com acompanhamento médico e manutenção da quimioterapia por dois anos. Em 2020, no entanto, a aposentada teve a primeira recidiva, com um quadro bem mais agressivo no pulmão. “Foi um grande susto, porque estávamos no meio da pandemia, com hospitais fechandos, e minha mãe fazendo um transplante de medula óssea”, acrescenta.
Após três anos, houve outra recidiva da doença, tratada com o uso de uma terapia inovadora de alta tecnologia chamada CAR-T, que utiliza as próprias células de defesa do paciente para combater as células cancerígenas. “A informação é primordial para o paciente e a família, principalmente na busca pelo tratamento e pela esperança de cura da doença”, desabafa. Atualmente, dona Sara continua em tratamento, com acompanhamento médico constante e foco na qualidade de vida.
A ciência ainda não consegue apontar a causa exata dos linfomas e não existe um protocolo de rastreamento da doença, mas existem fatores de risco. “Infecções virais, como as causadas pela hepatite, pelo HIV e Epstein-Barr, exposição a produtos químicos como benzeno, derivados do petróleo e certos agrotóxicos são fatores de risco. Profissionais como cabeleireiros, pintores e agricultores têm o maior risco de serem cometidos pela doença", explica a hematologista Camila Marca.
Diagnóstico e tratamento – Após a avaliação e palpação do linfonodo doente por um médico, é essencial retirar uma amostra para análise, pois existem outras causas para o aumento das ínguas, como infecções virais e bacterianas. O diagnóstico definitivo de linfoma é feito por meio da biópsia do linfonodo doente. Nesse procedimento, o linfonodo inteiro é retirado cirurgicamente e enviado para análise.
"O tratamento envolve uma variedade de abordagens terapêuticas, desde radioterapia, quimioterapia e imunoterapia, até o transplante de medula óssea. Temos avançado muito nos tratamentos, proporcionando altas taxas de sobrevida e cura para os pacientes", explica a hematologista.
Campanha “Agosto Verde Claro”- A melhor forma de prevenção ainda é a informação e a conscientização. A campanha foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e agosto é o mês de conscientização e combate aos linfomas. O principal alerta é sobre a importância do diagnóstico precoce. "Como não existe um protocolo de rastreamento específico para o linfoma, como acontece com outros tipos de câncer, é fundamental estar atento aos sinais do corpo e buscar atendimento médico ao perceber algo diferente", alerta a médica.