AÇÃO
Uma estrutura feita de tubos de papelão e madeira, erguida por voluntários e estudantes no coração de Belém, promete mais do que abrigar: a proposta é inspirar. A Paper Log House, instalação assinada pelo premiado arquiteto japonês Shigeru Ban, vencedor do Prêmio Pritzker 2014, chega à capital paraense como um convite à reflexão sobre sustentabilidade, inovação social e a função transformadora da arquitetura.
A obra está aberta à visitação gratuita de 05 até o dia 21 de novembro, na área externa do Parque da Residência, e faz parte da programação que antecede a realização da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que será sediada na cidade em 2025.
Arquitetura humanitária e engajamento coletivo
Originalmente concebida após o Grande Sismo de Hanshin-Awaji, em 1995, no Japão, a Paper Log House integra o projeto Disaster Relief, criado para oferecer soluções habitacionais de baixo custo e rápida construção em áreas afetadas por desastres. Já foi replicada em países como Índia, Haiti e Turquia, sempre com uso de materiais acessíveis e recicláveis.
O diferencial da instalação está na construção coletiva, que envolve a participação de estudantes e voluntários locais. Em Belém, a iniciativa foi realizada em parceria com o escritório Shigeru Ban Architects, a Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult/PA) e o Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa).
Presença que estimula novas formas de pensar o habitar
Para Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House São Paulo e curadora da mostra, o projeto tem um papel social que ultrapassa os limites da arquitetura: “A construção coletiva das casas também é um aspecto fundamental para promover a consciência da relevância de um trabalho em conjunto em prol da reconstrução da comunidade. Desde 2019, tentamos articular projetos com Shigeru Ban nessa área e, finalmente, conseguimos trazer a Belém um dos modelos mais inspiradores de seu trabalho, esperando que possa servir também de exemplo para brasileiros, paraenses e para as comunidades mundiais.”
Segundo Carlos Roza, presidente da Japan House São Paulo, a instalação dialoga com os desafios da atualidade: “A presença da Paper Log House em Belém reforça o debate que buscamos articular com Shigeru Ban durante sua visita a São Paulo no início do ano: que a arquitetura pode, e deve, ser parte de transformações sociais. Às vésperas da COP30, o projeto nos inspira a refletir sobre as maneiras como habitamos o planeta e como podemos adaptar a construção civil para contribuir com comunidades e condições climáticas de diferentes regiões.”
Legado para além da exposição
Esta é a segunda vez que a Japan House São Paulo realiza uma ação cultural em Belém. Em 2021, a cidade recebeu a exposição “Japonésia”. Agora, o retorno com a Paper Log House reafirma o compromisso da instituição com o intercâmbio cultural, a promoção de soluções sustentáveis e o incentivo à inovação.
Após o período de visitação, a estrutura será transferida para o campus do Cesupa, onde passará a ser um espaço educativo e de pesquisa sobre habitação sustentável e soluções arquitetônicas adaptadas às realidades locais.
A Paper Log House se estabelece como um símbolo de reconstrução, respeito e futuro — uma mensagem poderosa em uma cidade amazônica prestes a sediar um dos eventos ambientais mais importantes do mundo.