COP 30
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP 30, começa nesta segunda-feira (10) com um apelo coletivo: fazer da palavra “ação” algo verificável, mensurável, real.
Nas plenárias que se abrem em Belém, chefes de Estado, cientistas e representantes de mais de 160 países carregam a urgência de transformar o discurso climático em política pública — e a cidade paraense se torna o epicentro simbólico dessa transição.
O presidente-designado André Corrêa do Lago foi direto em seu discurso inaugural: “Chegou o tempo da implementação.” Depois de uma década de metas fragmentadas e promessas adiadas, a COP 30 é vista como o ponto de inflexão do Acordo de Paris — a conferência em que o mundo precisa mostrar, com números e prazos, que o limite de 1,5 °C ainda é possível.
O que está em jogo
O centro das negociações será a definição das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — as metas de redução de emissões de cada país.
O Brasil apresentou compromisso de reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2035, abarcando todos os setores da economia e reforçando o controle do desmatamento.
Hoje, 79 países já submeteram suas NDCs atualizadas, cobrindo 64% das emissões globais; os demais 118 ainda estão em revisão. A expectativa é que Belém acelere a adesão e estabeleça parâmetros de transparência.
Outro tema decisivo será o financiamento climático. O compromisso anterior, de US$ 100 bilhões anuais, nunca foi plenamente cumprido. Agora, fala-se em um novo pacto de US$ 1,3 trilhão até 2035, voltado a financiar adaptação, transição energética e preservação das florestas tropicais. A dúvida é quem vai pagar — e como esse dinheiro chegará a quem mais precisa.
Um palco de contrastes e responsabilidades
Belém recebe a conferência em meio a um esforço de preparação que transformou parte da cidade: centros de convenções ampliados, corredores de transporte remodelados e uma mobilização inédita de universidades, comunidades tradicionais e coletivos ambientais.
Por trás da vitrine, persistem os dilemas da desigualdade urbana e da infraestrutura precária — uma lembrança de que o enfrentamento da crise climática também é social.
Nas áreas de exposição e nos fóruns paralelos, a palavra “implementação” se repete como mantra. Mas há outro termo que começa a ganhar corpo: confiança.
Sem ela, dizem os negociadores, não há acordo que resista ao tempo. O desafio é fazer com que a COP 30 devolva ao mundo a confiança na cooperação internacional — e que os compromissos assinados em Belém sobrevivam à retórica.
Sinais de esperança
Entre tantas incertezas, há pontos de luz. Países do Sul global chegam mais articulados, defendendo novas formas de financiar a preservação sem comprometer o desenvolvimento.
Governos locais, startups e movimentos de juventude apresentam soluções concretas — de tecnologias limpas à recuperação de áreas degradadas.
E, sobretudo, cresce a percepção de que a mudança climática não é apenas um problema científico, mas um teste ético: o de escolher, conscientemente, um caminho que garanta dignidade às próximas gerações.
O embaixador Corrêa do Lago resumiu o espírito da conferência dizendo que "a COP 30 será a conferência da verdade". "Ou mudamos por escolha, juntos, ou seremos forçados a mudar pela tragédia”, disse.
Sem exageros, cabe dizer que, em Belém, o tempo de agir começa agora — com menos promessas e mais passos. E, entre o ceticismo e a esperança, ainda há espaço para acreditar que o mundo pode cumprir sua palavra.