COP 30
A quarta-feira, 12 de novembro, começou na COP 30 com uma mensagem inequívoca: a transição climática será feita por pessoas — ou não será feita.
No terceiro dia da conferência, o debate deslocou-se das metas abstratas para a dimensão humana da crise, com painéis e lançamentos dedicados a empregos, educação, cultura, saúde, direitos e informação. A tônica foi clara: sem justiça social e oportunidades de trabalho, não há sustentabilidade possível.
Logo cedo, a presidência da COP 30 lançou a Global Initiative on Jobs & Skills for the New Economy, um programa internacional voltado à criação de empregos dignos e capacitação profissional na economia verde. O relatório inaugural da iniciativa apresenta diretrizes para integrar formação e trabalho aos planos nacionais de transição — um esforço que busca conectar governos, empresas e sociedade civil na tarefa de preparar a força de trabalho para o século XXI.
“Trata-se de equipar as pessoas com as ferramentas e o conhecimento necessários para participar de uma economia que precisa mudar sem deixar ninguém para trás”, afirmou uma das coordenadoras do evento, durante a cerimônia realizada no auditório Parnaíba, na Zona Azul.
Trabalho, aprendizado e cultura como pilares de uma nova economia
As atividades do dia percorreram um fio condutor: a transição energética e climática deve ser também social e cultural.
Enquanto o Asset Owners Summit, realizado à tarde, reuniu grandes investidores para alinhar capital e metas de descarbonização, outras salas do complexo da COP sediaram discussões sobre educação, cultura e integridade da informação, temas até recentemente ausentes do centro das negociações climáticas.
Um dos encontros mais simbólicos foi o workshop sobre Integridade da Informação Climática, que reuniu comunicadores, pesquisadores e representantes da UNESCO e da ONU.
O grupo discutiu estratégias para combater a desinformação e promover campanhas baseadas em evidências científicas, estimulando o financiamento e a criação de um Fundo Global para a Integridade da Informação — um avanço que reconhece a comunicação como ferramenta essencial da política ambiental.
Já o evento sobre Adaptação Indígena, no espaço São Francisco, ampliou o protagonismo das lideranças tradicionais na formulação de políticas globais. As experiências locais apresentadas mostraram que soluções sustentáveis não nascem apenas de laboratórios ou gabinetes, mas de saberes que atravessam gerações.
A mesa ministerial enfatizou a necessidade de financiamento direto para projetos liderados por povos indígenas e comunidades tradicionais - e marcou o início de um esforço de longo prazo por maior representatividade nos fundos multilaterais.
Um dia dedicado à justiça e à ética global
O terceiro dia também trouxe o Global Ethical Stocktake, iniciativa inédita voltada a medir o alinhamento ético e social das políticas climáticas.
O conceito propõe que metas ambientais sejam acompanhadas de indicadores de justiça, equidade e direitos humanos, reconhecendo que não basta reduzir emissões se o processo agrava desigualdades.
A agenda foi complementada pelo lançamento do Plano para Acelerar Soluções (PAS), que propõe o uso de compras públicas sustentáveis como ferramenta de transição justa — compromisso firmado por ministérios e gestores públicos durante o evento.
“A ação climática começa nas escolhas cotidianas — de governos, de empresas e das pessoas comuns”, resumiu Ana Toni, CEO da COP30, em coletiva à imprensa no fim do dia. “Hoje reafirmamos que o combate à crise climática é também um projeto de humanidade.”
Cultura e narrativas: o poder de contar a mudança
“Narrativas e Contação de Histórias para Enfrentar a Crise Climática” uniu arte e política em uma celebração simbólica da criatividade amazônica e da diversidade cultural.
Ministrada por nomes como Margareth Menezes, Claudia Roth e Davi Kopenawa, a conversa defendeu a cultura como vetor de transformação e ponte entre ciência e emoção. “A arte é a linguagem mais antiga da Terra. Quando ela fala, todos entendem”, disse um dos participantes, ecoando aplausos no auditório.
O fio condutor
Entre fóruns técnicos e manifestações artísticas, o terceiro dia da COP 30 consolidou um recado: a crise climática não é apenas sobre carbono, mas sobre caráter.
Ela pede ciência, mas também empatia; inovação, mas também solidariedade. Em Belém, a conferência que começou debatendo números agora se volta às pessoas — e é nelas que talvez resida a resposta mais urgente e esperançosa.