COP 30
O Brasil apresentou nesta quinta-feira (13) o Plano de Ação em Saúde de Belém, o primeiro documento internacional voltado exclusivamente para a adaptação climática do setor saúde. Lançado na plenária ministerial da COP30, o plano reúne diretrizes para enfrentar efeitos já sentidos da crise climática — como ondas de calor, enchentes, secas e surtos de doenças — com foco especial em populações mais vulneráveis.
Para a presidência da conferência, o documento coloca o país na liderança do debate. “Trazer o SUS para o centro da COP mostra que a saúde é prioridade. Já são 80 países e parceiros aderindo ao plano, o que abre caminho para novos passos conjuntos”, afirmou Ana Toni, CEO da COP30.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforçou que o Brasil chegou à COP com a missão de transformar promessas em ação. “Diante de um clima já alterado, não há alternativa além de políticas públicas para nos adaptarmos. É hora de sair da reflexão e avançar de forma coordenada”, disse.
O plano está estruturado em três eixos:
• vigilância e monitoramento;
• políticas e fortalecimento de capacidades baseadas em evidências;
• inovação, produção e saúde digital.
As ações serão coordenadas em parceria com a ATACH, sob supervisão da Organização Mundial da Saúde.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, classificou o anúncio como um passo necessário. “A crise climática é, antes de tudo, uma crise da saúde”, disse em vídeo enviado ao encontro. Jarbas Barbosa, da Organização Pan-Americana da Saúde, lembrou que os impactos já são visíveis. Segundo ele, o calor aumentou 20% desde os anos 1990, e 550 mil pessoas morrem por ano em razão de temperaturas extremas. “O plano é um guia. Precisamos treinar equipes, preparar sistemas e agir em situações de tornado, ciclone e outros eventos intensificados pelo aquecimento global”, afirmou.
Simon Stiell, secretário-executivo da UNFCCC, complementou que adaptação precisa ter o mesmo nível de prioridade que mitigação. “Para muitos países, adaptar-se é questão de sobrevivência. O Plano de Saúde de Belém oferece uma base concreta para avançar”, avaliou.
A partir das discussões técnicas, surgiram compromissos financeiros importantes. Uma coalizão internacional com mais de 35 organizações filantrópicas anunciou US$ 300 milhões para acelerar ações ligadas ao plano. O foco inicial será financiar soluções contra calor extremo, poluição do ar e doenças infecciosas sensíveis ao clima, além de integrar dados climáticos e sanitários para fortalecer sistemas de saúde.
Entre os financiadores estão Bloomberg Philanthropies, Gates Foundation, Rockefeller Foundation, IKEA Foundation, Wellcome e outras entidades que atuam em escala global.
A iniciativa integra a Agenda de Ação da COP30, alinhada ao Objetivo 16 — voltado à promoção de sistemas de saúde resilientes — e responde ao Artigo 7 do Acordo de Paris, que trata da adaptação, além de complementar resoluções recentes da Assembleia Mundial da Saúde.
Para o governo brasileiro, o plano simboliza a principal contribuição da saúde ao mutirão global por ação climática. Para especialistas, representa o início de um movimento mais amplo. Entre discursos, negociações e corredores lotados da Blue Zone, a leitura é que a adaptação deixou de ser um tema marginal: tornou-se um campo urgente, onde ciência, política e financiamento começam a se alinhar.