SAÚDE E CLIMA
A relação entre clima e saúde ganhou novo protagonismo na COP30. O Hospital Israelita Albert Einstein apresentou, em Belém, uma plataforma inédita que integra dados climáticos, ambientais, socioeconômicos e de saúde de mais de 5.500 municípios brasileiros. A ferramenta, chamada MAIS (Meio Ambiente e Impacto na Saúde), foi lançada como prova de conceito e sintetiza mais de 100 milhões de registros públicos referentes a indicadores dos últimos três anos.
A iniciativa reúne informações de mais de 40 bases, como SUS, IBGE, INMET e ANA. Na prática, permitirá que gestores comparem regiões, identifiquem riscos e observem correlações entre fenômenos climáticos e impactos à saúde. Será possível visualizar, por exemplo, o aumento de doenças respiratórias em períodos de poluição, ou a relação entre ondas de calor e mortalidade cardiovascular.
Fundamentada em estudos científicos revisados por pares, a proposta busca facilitar o entendimento sobre como a crise climática afeta a saúde da população brasileira. As informações poderão ser filtradas por estado, município, bioma, faixa etária ou causa de internação, revelando padrões e lacunas que podem orientar políticas públicas.
A plataforma nasce em um contexto em que a Organização Mundial da Saúde já reconhece as mudanças climáticas como a maior ameaça à saúde no século 21. Pesquisas recentes ilustram esse cenário: um estudo publicado em Sustentabilidade em Debate projetou que, em Belém, no cenário de altas emissões (RCP8.5), o estresse térmico poderia ser responsável por 40% das mortes por doenças respiratórias. Em São Paulo, outro estudo mostra que o aumento de monóxido de carbono está associado a 4% mais mortes respiratórias e 2% mais óbitos cardiovasculares, com maior impacto entre grupos vulneráveis.
Para o presidente do Einstein, Sidney Klajner, a ferramenta amplia o olhar sobre os desafios climáticos. “Quando unimos ciência, tecnologia e dados, conseguimos enxergar os desafios da saúde de uma forma mais ampla. Essa plataforma é mais um passo para transformar informação em ação”, afirma. Klajner destaca ainda que os dados existem, mas estão dispersos: “Conectá-los ajuda a antecipar riscos e planejar respostas. É um exemplo de como a inovação pode fortalecer políticas públicas.”
Com o Brasil sediando a COP30, cresce o desafio de incorporar a variável climática ao planejamento do sistema de saúde. A proposta do MAIS avança nesse sentido, ao organizar dados complexos de forma acessível e territorializada. A expectativa é que, em sua próxima etapa, a ferramenta incorpore dados em tempo real e novas capacidades analíticas, evoluindo para um instrumento de apoio direto à gestão de saúde e meio ambiente.
A apresentação do MAIS em Belém reforça o papel da COP como espaço de inovação, conectando ciência, políticas públicas e adaptação climática — e coloca o Brasil na linha de frente das soluções que unem saúde e sustentabilidade.