Celeiro sonoro, o Norte do Brasil se consolida como uma cena fértil de experimentações musicais que reforçam a potência e a criatividade dos sons nascidos na floresta. O AMAJAZZON 2025, festival internacional de jazz realizado em Belém entre 28 e 30 de novembro, além de reunir grandes nomes da música instrumental internacional, lança holofotes sobre encontros sonoros surgidos na Amazônia, como o grupo amapaense Marrecos Land, a artista amazonense Tainá e i o u e a Amazônia Jazz Band, do Pará. Juntos, eles apresentam diferentes caminhos da música instrumental amazônica, que vão da pulsação dos tambores às paisagens experimentais, noise e big band, apontando a região como um dos lugares mais inventivos da música brasileira.

Improvisação amazônica contemporânea

A banda amapaense Marrecos Land, referência na música instrumental amazônica contemporânea, é um dos destaques do festival. Além do show no Theatro da Paz, o grupo promove no dia 27 de novembro, das 16h às 18h, o workshop “Amazônia Contemporânea Instrumental”, na Escola de Música da UFPA, dentro da programação gratuita do AMAJAZZON LAB.

Com quase 20 anos de trajetória, o Marrecos consolidou uma linguagem própria ao unir jazz contemporâneo, marabaixo, batuque e improvisação coletiva. O resultado é uma música de vanguarda que nasce diretamente do território.

“Vamos levar músicas autorais, experimentações rítmicas e melodias inspiradas nos rios, na floresta e na vida urbana do Amapá. Queremos que o público viva uma experiência sensorial de ouvir e sentir a Amazônia”, diz Miguel Neto, integrante do grupo.

Para o Marrecos, participar do festival é afirmar o lugar do Amapá no mapa da música instrumental do país.

“Nosso som é essa fusão do jazz contemporâneo com os ritmos amazônicos. O que nunca mudou é o respeito às nossas raízes e a criação a partir do território”, comenta Miguel.

Da cena experimental do Amazonas, a cantora, compositora e pesquisadora Tainá e i o u representa um dos nomes mais instigantes da nova música brasileira. Reconhecida pela estética ousada e por atravessar fronteiras entre beiradão, carimbó, free jazz, música clássica e improviso, ela trata a Amazônia não como paisagem, mas como linguagem viva.

“A Amazônia atravessa minha música como uma matriz ativa. Não é o canto de um pássaro solitário, mas o entrelaçamento de muitas vozes, vento, água, formigas, folhas. A floresta é o grande free jazz da vida”, explica a artista, aplaudida por nomes como Tom Zé.

No AMAJAZZON, Tainá se apresenta ao lado da Amazônia Jazz Band e de Juliana Sinimbú, além de ministrar uma oficina no AMAJAZZON LAB sobre criação vocal e improvisação. Com o álbum de estreia METACOMUNICANÇÃO, ela vem expandindo a percepção do que pode ser música amazônica contemporânea, em uma criação que assume risco, complexidade e ancestralidade como motores.

Amazônia Jazz Band: a tradição reinventada

Com mais de 30 anos de história, a Amazônia Jazz Band (AJB) é um dos pilares da música instrumental do Norte e referência nacional. Mais do que uma big band, o grupo se transformou em um laboratório de interpretação e composição amazônica, combinando repertório clássico do jazz norte-americano com obras contemporâneas de compositores paraenses e arranjadores de diferentes regiões do país.

Ao longo dos anos, a AJB incorporou as sonoridades da região, dos ritmos tradicionais às paisagens sonoras urbanas, e se tornou símbolo da sofisticação técnica e da diversidade rítmica que marca a música instrumental do Pará. Sob regência do saxofonista Eduardo Lima, a orquestra amplia horizontes e reforça o que o festival apresenta em sua essência: o jazz amazônico como expressão global.