O escritor Nazareno Tourinho, 80 anos, lembra com detalhes do dia 31 de março de 1964. Ativista de movimento cultural, ele viveu na pele o período de repressão da ditadura militar em Belém. “Eu paguei um preço muito alto por trabalhar com teatro e através das minhas peças, expressar o direito pela liberdade. Recordar esse momento sombroso da nossa história é uma forma de reafirmar que esse período não deve se repetir nunca mais”, conta o escritor, que foi torturado e teve uma peça teatral proibida pela censura do regime militar.
No dia em que o País relembra os 50 anos do golpe de 1964, Nazareno Tourinho e diversos contemporâneos da época da ditadura foram homenageados em uma programação especial promovida pelo Governo do Estado, através do Instituto de Artes do Pará. A Semana 1964: Lembrar para não esquecer, foi aberta oficialmente nesta segunda-feira, 31, no Cinema Olympia, em Belém. Durante sete dias, o evento vai proporcionar apresentações de filmes, debates e rodas de conversas com pesquisadores, jornalistas e personalidades que viveram esse período.
Com uma plateia lotada na maioria por jovens, o evento foi aberto com uma plenária formada pelo governador do Estado, Simão Jatene, pelo presidente do IAP, Fábio Souza, pelo secretário adjunto da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Sávio Miléo, pelo deputado estadual Arnaldo Jordy e pela presidente da Fundação Cultural do Município de Belém, Heliana Jatene, que falou da importância de se relembrar a história para construir o futuro. “A presença de muita gente jovem nesse evento nos deixa muito feliz. É imprescindível que a nova geração saiba e questione o que houve na história. O nosso passado não pode ser esquecido, pelo contrário. É através da memória que edificamos o presente e o futuro”, declarou o presidente do IAP, durante a abertura oficial do evento, que segue até o próximo domingo, 6, no Cinema Olympia.
Comissão da Verdade – Durante a solenidade, Simão Jatene assinou a lei estadual que cria a Comissão da Verdade no Estado do Pará e fez a entrega simbólica dos documentos sobre o regime militar para o Arquivo Público do Estado. “A lei de criação da Comissão da Verdade é um importante passo para se aprofundar nos relatos históricos ainda não contados e debater com a sociedade que a história não está longe, lá no passado. Ela está viva, presente e precisa ser recontada sempre. Principalmente os relatos ainda não revelados sobre esse período do País”, afirmou o governador.
Jatene pediu uma salva de palmas para os combatentes do regime e chamou a atenção sobre a grande participação de jovens no evento. “É importante que essa juventude tenha a possibilidade de conhecer a história do País, a memória do Estado. Quando a gente fala de história, nós estamos falando de gente. Tenho certeza que ao perceber os erros e acertos do passado, eles poderão construir o futuro de forma muito melhor”, ressaltou.
Para o estudante universitário Mauricio Cursino, 26 anos, o regime militar ainda é um período muito vivo na nossa história. “Eu sempre me interessei por esse tema porque diferente de muitos momentos da história, que os personagens estão apenas nos livros, no regime militar, os personagens estão aqui. Estão debatendo, questionando. Eu nasci em uma geração que não soube o que é censura, mas a luta pela democracia não é um assunto do passado. Pelo contrário, as manifestações da jornada de junho mostraram que esse tema está mais atual do que nunca”, revelou o jovem.
”Uma ditadura é sempre uma tragédia social. Esse tempo foi um período sombroso de amordaçamento da liberdade. O interesse da juventude paraense pelo tema revela a importância de nós termos o direito social da memória e a verdade”, afirmou o advogado Paulo Fonteles Filho, membro da Comissão da Verdade do Estado.