Desde 2014 a aposentada Irene Mariano Melo, de 71 anos, tentava conseguir fazer, na Santa Casa de Misericórdia, a cirurgia para se livrar de uma incontinência urinária que há tempos atrapalhava sua rotina. No início do ano passado, chegou a ficar internada no hospital por cinco dias para fazer o procedimento, que acabou sendo cancelado. Hoje a espera acabou. A paciente foi uma das atendidas pelo mutirão de cirurgias ginecológicas que, só neste sábado, 2, conseguiu atender outras nove mulheres em situação semelhante a de Irene.

A filha, Ivanira Melo, acompanhou a agonia da mãe esses anos todos e confessou que o sentimento agora é de alívio. "Imagine uma mulher da idade dela precisar usar absorvente. Era o que acontecia. Cada consulta, cada marcação de exame era um problema diferente, e aí a cirurgia ia sendo adiada. Dessa vez, tudo se resolveu em duas semanas, a própria médica que deu alta para ela no ano passado, foi quem avisou do mutirão", contou. "Com certeza ela vai ter muito mais conforto agora", afirmou, logo depois de receber a paciente de volta à enfermaria.

Planejamento - O mutirão faz parte de uma série de ações que estão sendo colocadas em prática pela diretoria da Santa Casa do Pará, através da coordenação de clínica cirúrgica e da supervisão de residência médica ginecológica, no intento de diminuir a fila de mulheres na fila para cirurgias eletivas, ou seja, que não são emergenciais. O primeiro ocorreu em janeiro e atendeu 10 mulheres realizando procedimentos minimamente invasivos e usando tecnologia de ponta, e ainda devem ocorrer mais três outros mutirões entre os meses de fevereiro e março.

"Há cerca de 300 mulheres com exames nas mãos, prontas para serem operadas, e outras 250 entrando com solicitação para fazer algum tipo de procedimento cirúrgico. Essa ação, junto de outras reformulações, foi uma proposta feita por mim e pelo Dr. Helder Ikegami, coordenador da clínica cirúrgica, para tentar amenizar essa espera, que às vezes chega a ser de 4, 6 meses", detalhou o Dr. Rômulo Muller, que supervisiona a residência em ginecologia.

As reformulações citadas pelo médico incluem a transferência de profissionais do ambulatório para a área cirúrgica e ainda a entrada de mais um médico no quadro, que poderá realizar até 16 procedimentos em um mês. "Atualmente, como hospital referência e hospital escola, realizamos cerca de 40 cirurgias por mês. Quando transferimos um médico do atendimento ambulatorial para a área de cirurgia, também conseguimos ampliar esse quantitativo", explica Muller.

Nas ações como a de hoje, além dos residentes, participam também anestesiologistas, farmacêuticos e outros membros da equipe multiprofissional do hospital. "Ao mesmo tempo em que devolvemos a qualidade de vida para mulheres que sofriam, por exemplo, com miomas e, consequentemente, sangramentos, dores e até mesmo interrompiam a vida sexual por conta desses sintomas, nós, com o aumento do número de cirurgias realizadas, contribuímos para a formação dos médicos do futuro, que amadurecem no dia a dia", avalia o ginecologista.

Moradora de Curralinho, Maria Benedito Tenório Gomes, de 54 anos, descobriu há alguns meses que tinha um pólipo no útero, e também foi uma das atendidas no mutirão. A irmã, Maria das Graças, que mora no mesmo município, veio a Belém acompanhá-la no procedimento. Desde o momento da internação, tanto a paciente quanto a acompanhante receberam alimentação fornecida pela Santa Casa do Pará.

"Ela não é de se queixar de dores, mas quando ela veio a Belém e já voltou dizendo que precisaria se operar, entendi que ela não estava bem. Só que agora já está tudo bem e sei que ela vai viver uma vida muito melhor depois de hoje", reconheceu, já também depois de receber a irmã de volta do centro cirúrgico após uma histerectomia e cirurgia de Sling, que é o procedimento feito para levantar a bexiga e evitar a incontinência urinária. 
 

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