Cetea
"Nós, autistas, precisamos urgentemente de uma clínica-escola em Belém". A constatação, feita pelo adolescente Richard Pires, 12 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), ecoou no auditório lotado da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), na manhã desta quinta-feira (25). Diante de parlamentares e representantes de entidades sociais, o adolescente leu uma carta relatando sua luta por direitos e a importância da Implantação de uma clínica-escola para pessoas com autismo no Pará.
O ouvidor-geral do Estado, Arthur Houat, que participou da audiência pública representando o governador Helder Barbalho, enfatizou que o Estado apoia a reivindicação e somará esforços para a criação da Clínica-Escola do Transtorno do Espectro Autista (Cetea). "A Ouvidoria tem recebido e tratado o assunto com mães que representam o movimento, e estão construindo o projeto da Cetea. Esses diálogos já estão acontecendo, e também está sendo iniciado um estudo da atual gestão para saber de que forma o governo do Estado vai viabilizar e auxiliar o funcionamento da clínica-escola", informou Arthur Houat.
Ele também ressaltou que a existência de uma clínica-escola não exclui o ensino regular, no qual a pessoa com autismo deve continuar matriculada. "A Cetea será uma espécie de contraturno do estudo regular, pra manter a criança em atividade dentro das salas multifuncionais, com equipe multidisciplinar, para a pessoa com autismo desenvolver lá o que ela não consegue desenvolver na escola regular. E, assim, a sociedade avançar ainda mais na inclusão", frisou o ouvidor-geral.
Apoio parlamentar - O presidente da Alepa, deputado Daniel Santos, também assegurou na audiência o total apoio parlamentar à criação da Cetea. O primeiro passo na concretização da clínica-escola foi dado com a aprovação de uma emenda parlamentar, de autoria do deputado estadual Carlos Bordalo. "No ano passado eu aprovei na Lei Orçamentária Anual (LOA) uma emenda de R$ 1, 5 milhão para este propósito, a criação de uma clínica-escola para a abordagem dos autismos no Pará, e também fiz um projeto indicativo ao Executivo para fazer parte desse momento. Já estamos nos reunindo com equipes da Seduc (Secretaria de Estado de Educação), Sespa (Secretaria de Estado de Saúde Pública) e Seaster (Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Renda)", disse Carlos Bordalo.
Pais, mães e profissionais de diversas áreas também se manifestaram na audiência pública, que contou ainda com a presença de representantes de mais de 20 entidades de defesa dos direitos da pessoa com autismo, de cerca de 50 municípios paraenses.
Acompanhamento - Eliete Aguiar veio de Ourém, município do nordeste paraense, onde é coordenadora pedagógica no Centro de Atendimento Profissional Especializado Edson Vinicius Ferreira da Silva, vinculado à Secretaria Municipal de Educação. Ela destacou a importância da criação da Cetea, dizendo que "nos municípios a estrutura de atendimento às pessoas com autismo é bem básica. Ainda falta muita coisa. Então, é necessário ter esse acompanhamento mais especializado, com fonoaudiólogo, psicólogo, assistente social etc. A Cetea é a esperança de haver mais formação desses profissionais".
A boa leitura e a desenvoltura do menino Richard Pires diante do plenário da Alepa não é comum entre autistas, principalmente quando a interação social é uma das dificuldades enfrentadas pela maioria das pessoas com TEA. O desenvolvimento cognitivo, com o objetivo de garantir autonomia e qualidade de vida aos autistas, é o principal anseio dos pais de pessoas com o transtorno.
Autonomia - Rosa Mariana, mãe de Iandra Roberta, 16 anos, informou que a adolescente se expressa desenhando. Segundo Rosa, o atendimento especializado em uma clínica-escola pode ajudar a filha a ampliar seu desenvolvimento. "A minha filha foi diagnosticada aos 8 anos de idade, um diagnóstico tardio. E a principal dificuldade que ela tem hoje é a socialização. A gente necessita muito da clínica-escola, porque eu quero que a minha filha tenha autonomia. Ela é totalmente dependente de mim", acrescentou.
O projeto da Clínica-Escola do Transtorno do Espectro Autista foi criado e apresentado por um Grupo de Trabalho (GT), que envolve representantes de entidades civis, profissionais e acadêmicos. O projeto é baseado nos seguintes pilares: formação de profissionais especializados, como cuidadores; o atendimento intersetorial, que inclui psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas, e o apoio aos pais com assistência social.
Referência - "A clínica será um centro de referência, que irá cobrir uma lacuna na falta de políticas públicas ao autismo no Pará. Esse é o divisor de águas: implantar um serviço público especializado em autismo para aliviar a angústia de muitas famílias", disse Cristina Serra, integrante da ONG Amora - Associação de Pais e Mães de Pessoas com Autismo.
Rosa Mariana, assim como muitos participantes da audiência, foi tomada pela emoção. "É felicidade, porque é um anseio muito antigo. E eu vejo que é a primeira vez que o Estado realmente se coloca à disposição para atender esse anseio, e realizar esse sonho", afirmou.
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