Covid-19






Foto: Pedro Bastista
O barulho da máquina de costura é intenso na casa da autônoma Jucilene Cavalcante. Moradora de Bragança, nordeste paraense, a costureira encontrou na confecção de máscaras de tecido uma forma de se reinventar no ofício inicialmente interrompido pelo período de quarentena. Acostumada a produzir roupa feminina, como trajes de festa e vestidos infantis há quase 16 anos, a autônoma viu a sua demanda de trabalho desaparecer com o isolamento social. Sem encomendas de vestuário e as contas chegando, a única certeza que ela tinha era que precisava se reinventar na profissão. E foi isso que fez.
“Eu comecei a confeccionar as máscaras devido aos pedidos de amigos, familiares e moradores da cidade em geral que procuravam esse material de proteção no comércio local e não encontravam. Por isso, resolvi pesquisar sobre o assunto e após ver os modelos, os moldes e os cortes, resolvi aderir a isso e me readequar as novas demandas dessa época de pandemia”, afirma a costureira.

Jucilene Cavalcante trocar a produção de vestidos pela confeccção de máscaras caseiras
Assim como a Jucilene, a costureira Socorro Ribeiro também precisou se readaptar as mudanças na economia provocada pelo avanço da Covid-19. “Antes dessa crise, a principal demanda do meu ateliê era moda feminina. Mas com essa mudança, a nossa demanda também precisou ser alterada e agora só produzimos máscaras de tecidos, tanto simples como personalizadas. E as encomendas não param de crescer”, destaca a autônoma, moradora de Ananindeua.
Integrante do grupo de pessoas que têm maior chance de ter complicações se forem infectadas pelo novo coronavírus, segundo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Lailce Santos aproveitou o período de isolamento social para se reiventar na profissão de costureira e agora produz máscaras de tecido sob encomenda. "Com a questão do coronavírus eu estou em casa sem trabalhar porque sou do grupo de risco. Essa foi forma que eu encontrei de não ficar parada e ter uma renda", ressalta a autônoma, que atende pedidos de encomendas através do WhatsApp (91) 98055-0527.
“As máscaras caseiras podem ser feitas em tecido desde que desenhadas e higienizadas corretamente. O importante é que elas sejam individuais, com pelo menos duas camadas de pano e feita nas medidas corretas cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais” afirma o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Fonte de renda
O aumento na busca por máscaras caseiras também garante renda extra para trabalhadores do comercio informal. Com as vendas de salgados paralisadas com o sumiço da clientela, o vendedor autônomo Laercio Ferreira resolveu apostar no comércio dos equipamentos de proteção individual para manter o sustento da família. “Eu vendia doces, salgados e cigarros nas festas no final de semana. Mas como meu trabalho parou por causa do isolamento social, eu tive que reinventar o meu ganha pão. Como eu conheço uma costureira que produz máscaras de pano, decidi investir nesse tipo de produto e o resultado tem sido positivo. Estou satisfeito com as vendas que fiz até agora", comenta.
O barbeiro Everton Santos também apostou na venda de máscaras de tecido para aumentar a renda. O profissional fez uma parceria com duas costureiras para confeccionar o produto, vendidos numa barbearia do bairro da Marambaia, em Belém. No local, os clientes tem acesso a uma variedade de máscaras caseiras personalizadas com os mais diversos temas, do universo de revista em quadrinhos à paixão do futebol paraense. "A falta desse produto no mercado de Belém foi a oportunidade que eu vi para aumentar a minha renda e ao mesmo tempo conter o avanço do novo Coronavírus na cidade", afirma.

Encomendas pelo WhatsApp: (91) 98202-7990
Foi a ausencia de máscaras no comércio local também que motivou a Prefeitura de Belém a contratar artesãs e costureiras para produzirem os equipamentos que serão distribuídos entre as unidades de saúde do município. A ação, que ocorre sob a supervisão da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) segue todos os padrões exigidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já distribuiu mais de 1.000 máscaras na capital.
“Muitas mulheres então procurando caminhos para sobreviver neste momento, nós observamos que isso iria gerar renda, principalmente para aquelas que trabalham em casa. A OMS flexibilizou para que pudéssemos produzir essas máscaras, então procuramos artesãs que pudessem confeccionar dentro do padrão correto de produção. Não podemos fazer as máscaras de qualquer jeito”, explicou a coordenadora da ação, Noeme Barbosa.
Use Máscara Belém
Além de movimentar a economia local, a produção de máscaras caseiras também movimenta e inspira ações de solidariedade. Em Belém, um grupo de voluntários recorreu a abertura de uma vaquinha online para comprar tecido e elástico para a confecção e distribuição de máscaras para a população. Lançado na última quarta-feira, 01/04, através de uma plataforma de financiamento coletivo, o projeto Use Máscara Belém incentiva a doação e o uso dos equipamentos de proteção individual como medida para reduzir a curva exponencial da Covid-19.
Inspirada no projeto “Tudo pela Vida” de Curitiba (PR), que já doou 3 mil máscaras em 15 dias, a ação tem mobilizado diversas pessoas da capital e do interior do estado e reverberado esperança em tempos de pandemia. “Somos uma organização totalmente descentralizada, sem hierarquia, sem partido. A ideia é usar as redes sociais como o Instagram e Whatsapp para mobilizar pessoas e isso tem dado certo. Já conseguimos recursos para comprar alguns materiais, temos grupos de costureiras, de transporte e temos recebido apoio de muita gente”, explica o professor de yoga Rogério Chimionato, um dos voluntários do projeto.
A vaquinha online do projeto Use Máscara Belém tem como meta, neste momento, a arrecadação de 10 mil reais para a compra dos tecidos usado na produção dos equipamentos de proteção individual. Para saber mais sobre o projeto, acesse a página da plataforma de financiamento coletivo.
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