Ortopedia

Pesquisa com pacientes do SUS no Pará ganha prêmio internacional nos EUA

O prêmio chama-se Paolo Aglietti Award em homenagem ao grande ortopedista ítalo-americano que fomentou o desenvolvimento de várias técnicas pioneiras na cirurgia do joelho.

A pesquisa, realizada por dois anos (de 2019 a 2021), avaliou qual desses dois métodos de prevenção apresenta melhor resultado para o paciente. Essa informação é importante porque auxilia o médico na escolha do melhor tratamento preventivo. A prevenção a essas duas ocorrências pode ser feita de duas maneiras: com medicação anticoagulante  e com o uso de uma meia pneumática de compressão sequencial sobre o inchaço da perna (edema) e a perda sanguínea. A artroplastia é comumente indicada para casos de artrose (desgaste das articulações), problema que aparece com mais frequência em pessoas idosas. E com o envelhecimento da população, essa cirurgia vem sendo realizada mais vezes.

A pesquisa concorreu com trabalhos de diversas instituições do mundo e conquistou este mês o Prêmio Paolo Aglietti de Melhor Pesquisa Mundial sobre Artroplastia do Joelho, durante congresso realizado este mês em Boston (EUA), pela Sociedade Internacional de Artroscopia e Cirurgia do Joelho.

O estudo envolveu 150 pacientes do SUS, de 60 a 70 anos, a maioria mulheres, que foram submetidos à artroplastia total do joelho, uma cirurgia de grande porte, que pode causar trombose e embolia, duas complicações graves.

A pesquisa, que contou com o aval da UFPA e da USP, também recebeu, em 2022, o prêmio de Melhor Pesquisa Clínica da Ortopedia Brasileira, durante o Congresso Brasileiro de Ortopedia, em Florianópolis (SC).

Dr. João Alberto Maradei com o Dr Alan Mozella, presidente da
SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho) Foto: Divulgação

Para o responsável pela pesquisa, o professor da Faculdade de Medicina da UFPA, Dr. João Alberto Maradei Pereira, o estudo realizado no Pará destacou-se por abordar algo muito frequente na ortopedia, que é a prevenção que precisa ser realizada contra a trombose e a embolia, no caso de uma cirurgia de grande porte.

“Fizemos um ensaio clínico randomizado, que é considerado a evidência científica de mais alta excelência. Do ponto de vista da metodologia científica, foi um trabalho muito bem elaborado e, por focar em um tema do dia a dia de ortopedistas de vários lugares do mundo, chamou atenção da comunidade científica internacional.”, avalia.

O pesquisador  destaca que a artroplastia total do joelho é cada vez mais realizada no mundo todo, devido ao envelhecimento da população. “Os problemas de desgaste das articulações, chamados de artrose, quando não resolvidos de forma não cirúrgica, acabam evoluindo para a necessidade de realizarmos essa cirurgia. E nela pode ocorrer o tromboembolismo, que é grave.”, alerta.

Ele explica que a trombose venosa profunda é causada pelo entupimento dos vasos da perna, o que provoca o inchaço. A embolia é considerada ainda pior porque um coágulo formado na perna migra para o pulmão, podendo levar o paciente à morte. “É um quadro raro, mas como é uma cirurgia feita com frequência, um caso desse pode ocorrer.”, ressalta.

Segundo ele, o resultado da pesquisa apontou que o uso da meia de compressão é mais eficaz para os pacientes do que o simples uso da medicação anticoagulante. “Ou seja, em um grupo de pacientes, quando se puder optar entre a medicação ou a meia, dizemos que a meia traz melhor resultado.  E para ficar claro: a meia não é aquela de compressão graduada que se utiliza frequentemente para tratar varizes, é uma meia que se acopla a um aparelhinho portátil que a insufla em três câmaras de ar.”, explica.

O pesquisador alerta, porém, que não são todos os pacientes que poderão utilizar somente a meia como forma de prevenção. Se ele tiver histórico de ter tido trombose ou embolia, precisará tomar também a medicação.

Os 150 pacientes do SUS envolvidos na pesquisa atenderam ao perfil de poder tomar  a medicação de forma isolada ou usar a meia de forma isolada. Foram formados dois grupos bastante uniformes, sendo todos operados pela mesma equipe médica e apresentavam o mesmo quadro.

A pesquisa foi realizada após ser aprovada pelo comitê de ética do Hospital das Clínicas da USP e pelo comitê de ética do Instituto de Ciências da Saúde da UFPA. Com esse convênio das duas universidades, a pesquisa foi viabilizada.

O pesquisador acredita que o estudo coloca o Pará e o SUS em evidência no cenário nacional e internacional. “Receber esse prêmio mostra que o trabalho feito em nosso Estado é de muito valor. E merece destaque por mostrar que o SUS também oferece tratamento com alto nível de excelência.”, avalia.

Ele reconhece que o sistema apresenta problemas, até por conta do subfinanciamento, mas assegura que existe um SUS bem trabalhado, que oferece excelente serviço a muitos pacientes. 

“E a gente precisa apoiá-lo, e não apenas quando o assunto é vacina. O SUS vai além das vacinas. É assistência diária à população. Se a população passar a acreditar que o SUS pode ser muito bom,  ele vai melhorar. Porque a sociedade, em geral, não se contentará mais com serviços de má qualidade. Passará a cobrar mais, exigir qualidade. E, com a cobrança da população, o sistema melhora. Isso é fato.”, argumenta o pesquisador.

“Esse prêmio mostra que o trabalho feito em nosso Estado é de muito valor, que merece destaque tanto por ser cientificamente bem feito, como por evidenciar que o SUS também oferece tratamento com alto nível de excelência.”, ressalta o líder da pesquisa, o professor da Faculdade de Medicina da UFPA, Dr. João Alberto Maradei Pereira.


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