Resgate Cultural
O carnaval no Pará oferece opções para todos os gostos. Dos tradicionais blocos de rua aos desfiles oficiais de agremiações, os foliões encontram sempre uma maneira de aproveitar a festa mais conhecida do País. Mas em São Caetano de Odivelas, município do nordeste paraense, a expressão "brincar o carnaval" ganha um sentido literal. Berço de uma cultura popular rica no estado, São Caetano tem um dos carnavais mais genuínos, coloridos e, porque não dizer, graciosos do Pará. Tão logo a folia de Momo ganha as ruas da cidade, surgem os bonecos cabeçudos, que abrem alas para outros curiosos personagens, como os mascarados pierrôs e os bois.
Emprestados, por assim dizer, dos festejos juninos, eles animam os brincantes no ritmo do frevo tocado pelas 'orquestras' (bandinhas de percussão e sopro) e arrastam uma verdadeira multidão pelas ruas da cidade. Essa combinação, embora pareça estranha para quem está acostumado aos moldes tradicionais dos blocos de rua, é resultado da mistura de alguns elementos do folclore local, como os bois de máscara e os cordões de pássaros. Contudo, a incorporação destes últimos ao carnaval é recente, começou em 2010. Originalmente, apenas os "cabeçudos" e mascarados acompanhavam a programação.
Foi na década de 70 que o carnaval de São Caetano ganhou a figura dos bonecos "cabeçudos", confeccionados a partir de caixas de papelão. Pouco depois vieram também os mascarados, que lembram outro personagem bem conhecido, o pierrô, inspirado nos carnavais de Veneza, na Itália. Agora reunidos, eles comandam a folia odivelense.
Durante os cinco dias da programação carnavalesca, de acordo com a prefeitura local, o município deve receber quase 30 mil pessoas. Por conta disso, o governo do Estado reforçou a segurança com contingentes extras das Polícias Civil e Militar. A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) também está presente com a campanha de prevenção às DST/Aids e de eliminação dos focos do mosquito Aedes Aegypti.
Na última terça-feira, 9, o destaque da programação foram as disputas de blocos e desfile do boi Faceiro, um dos primeiros a unir a tradição dos bois ao carnaval popular. Quase 10 mil brincantes acompanharam o cortejo. Ao todo, 14 bois integram as manifestações locais, mas são o Faceiro e o Tinga os que mais projetam a cultura do município em grandes eventos e arrastam dezenas de foliões.
“Nós trabalhamos para manter a identidade do carnaval odivelense, com a tradicional bandinha de fanfarra, sem música da moda e valorizando os personagens da nossa cultura, como o boi, que saiu da quadra junina para tornar essa festa única. Hoje, além de organizar o desfile, eu participo da festa e ainda trago o meu filho, de cinco anos, para que ele possa vivenciar essa nossa cultura e quem sabe ajudar a mantê-la depois de mim”, diz Ronde Palha, coordenador do boi Faceiro e pai de João Benedito, que há três anos acompanha a festa e dá vida a um dos bonecos "cabeçudos do desfile.
“O boi é uma figura tradicional em nosso município, assim como os cabeçudos e os mascarados. São essas figuras que tornam o carnaval de São Caetano único. Não é a toa que temos recebido um número cada vez maior de visitantes a cada ano, além de percebermos uma participação mais expressiva dos próprios moradores. São Caetano, assim como Vigia de Nazaré, tem uma forte tradição no carnaval, e temos nos esforçado para preservar isso”, explica o secretário municipal de Cultura, Ademar Farias.
Entre os blocos que participaram da disputa desta terça-feira estava o campeão do ano passado, o “Pescada Amarela”, criado em 2011 por pescadores do bairro Cachoeira. Desde então a associação vem crescendo e no carnaval passado finalmente conquistou o tão cobiçado troféu. Este ano, eles levaram para as ruas uma réplica do peixe que dá nome ao bloco, com mais de dois metros de comprimento, além de quase 400 brincantes .
“Fazemos isso por paixão mesmo, pela tradição do carnaval. Procuramos organizar tudo da melhor maneira e sempre contamos com o apoio da Polícia Militar para garantir a tranquilidade dos nossos integrantes. Estamos confiantes com um bom resultado este ano e a meta para 2017 é levar para o desfile um mascote ainda maior”, adianta Sebastião da Silva, 56, fundador do bloco.
Outro bloco bastante popular é o “Papudinhos”, que tem apenas três anos de fundação, mas conta com um time dedicado, que este ano levou os cabeçudos e o boi para alegrar o desfile. “Nós reunimos amigos, vizinhos e gente que vem voluntariamente ajudar na organização e confecção das fantasias. É tudo por amor ao carnaval mesmo, porque a gente nasceu e se criou aqui. E assim como nos outros blocos, a gente trabalha junto com a polícia para evitar qualquer confusão. O melhor é se divertir sem causar problemas”, diz o funcionário público Eduardo Quizan 35, organizador do bloco.
Na concentração dos blocos, próxima à rua principal, equipes da Sespa e da secretaria de Saúde do município coordenam o Bloco da Saúde, que se integra aos foliões fazendo a distribuição de camisinhas e repassando orientações sobre como prevenir doenças sexualmente transmissíveis e também a dengue, zika, chikunguya.
“Só em São Caetano já foram distribuídas mais de 7500 camisinhas desde o final de semana. O foco do nosso trabalho é a prevenção, por isso procuramos esclarecer dúvidas da população e reforçar o combate ao mosquito Aedes aegypti”, explica a técnica em vigilância da saúde da Sespa, Eli Cristiane Navegantes.
Com o aumento do fluxo de pessoas na cidade, a segurança tem se tornado uma prioridade no planejamento da festa. Semanas antes dos desfiles, os representantes dos blocos se reúnem com a Polícia Civil e a Polícia Militar para definir detalhes sobre o trajeto e as normas de conduta. “Garantimos o reforço do efetivo, mas com esse trabalho o resultado tem sido tranquilo. Apesar de ser uma época muito movimentada, tivemos poucas ocorrências que necessitaram da intervenção policial. Os registros mais comuns são de excessos causados por bebidas alcoólicas”, explica o delegado Vinícius Florêncio.