CRÔNICA

Descer as ladeiras íngremes do bairro do Taíra de bicicleta, com as mãos soltas do guidão, talvez seja uma das melhores lembranças que eu tenho da infância em Bragança, nordeste do Pará. Na memória também estão guardados os cheiros, os sons, as procissões de São Benedito, o carnaval de rua, a vila de pescadores, o banho de rio, o passeio na feira e as típicas tardes hibridas de sol e chuva de uma cidade, que apesar das contradições sociais, continua encantadora.
Falando em bicicleta, foi sobre as duas rodas de uma Caloi Cross 1998 que eu desbravei os quatros cantos do município. Aos 12 anos, a sensação que eu tinha era que aquele lugar mais parecia a extensão do quintal da minha casa. Quando cresci, levei um bom tempo para entender que a cidade também cresce e que a Bragança de hoje, com mais de 123 mil habitantes, não é mais aquela dos anos 90, preservada na memória.
Mas apesar de tanto tempo longe da terrinha, a sensação que tenho é que a cidade nunca saiu de mim. Talvez a tal bragantinidade - um sentimento de pertencimento e amor por Bragança, independente se você é bragantino nativo ou não – explique isso. Afinal, a distância física da cidade nunca foi motivo para me afastar daquele lugar. Ao contrário, a distância inversamente acabou me aproximando ainda mais do local onde vivi toda a infância.
Seja de uma forma sutil ou de uma maneira mais intensa, essa relação de amor pela cidade acabou inspirando o meu trabalho. A poética daquele lugar é tão forte e onipresente, que não é preciso fazer muito esforço para transformar aquelas referências em arte e compreender por que, mesmo depois de tanto tempo, Bragança continua sendo um norte de inspiração.
Parabéns pelos seus 410 anos, pérola do Caeté!
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Ajuruteua Amazônia Bragança bragatinidade memória nordeste paraense Turismo
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